terça-feira, 22 de abril de 2008

Saramago


Saramago em visita à sua vida
O escritor José Saramago vistou hoje a exposição sobre a sua vida e obra "A Consistência dos Sonhos", com mais de 1200 documentos, concebida pela Fundação César Manrique. E deu espaço às suas veias crítica e sentimental. Sobre o país, disse: “Há muito trabalho a fazer, e não é para restituir Portugal a um papel que só episodicamente teve", mas para que seja um lugar em que se "reconheça”. Disse também que é um sentimental, apesar de ter fama do contrário, e que aqui foi "tratado injustamente" e por isso sofria, o que o levou a sair para Espanha. Foto: Rui Gaudêncio.

Visita à exposição na Ajuda sobre a sua vida
José Saramago: “Falta em Portugal espírito crítico”
22.04.2008 - 16h06 Lusa, PÚBLICO
O escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, considera que “falta em Portugal espírito crítico” e defende o valor das “ideias que vão contra a maré”.

“Estamos um bocado aborregados”, disse ainda, numa conferência de imprensa realizada na Galeria de Pintura D. João I do Palácio da Ajuda, onde será inaugurada amanhã a exposição “José Saramago – A Consistência dos Sonhos”, com mais de 1200 documentos, concebida pela Fundação César Manrique em torno da sua vida e obra e que o escritor visitou hoje. No entanto a abertura ao público acontece apenas na quinta-feira.

Perante dezenas de jornalistas, portugueses e estrangeiros, Saramago falou durante mais de meia hora sobre as suas impressões acerca da exposição, da sua recuperação física (depois dos problemas graves de saúde que atravessou no final do ano passado), e do seu novo livro, “A Viagem do Elefante”, que deverá sair no Outono e no qual “não haverá história de amor”, disse, pontuado por um: “Desculpem-me as senhoras”.

“Os escritores não podem salvar nem o mundo nem o país em que vivem”, opinou, ressalvando, no entanto, que “há muito trabalho a fazer, e não é para restituir Portugal a um papel que só episodicamente teve, mas para que seja um lugar em que se reconheça”.

“Sou um sentimental”

Ladeado pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, e pelo comissário da exposição, Fernando Gómez Aguilera, também director cultural da Fundação César Manrique, José Saramago, 85 anos, manifestou-se “muito feliz por estar em Portugal”.

“Eu tenho uma reputação de ser uma pessoa seca, dura, antipática e de ser vaidoso. Mas eu sou um sentimental”, observou, recordando as razões que o levaram a sair do país em 1993: “Fui tratado injustamente nesta nossa terra e sofria.”

“Este país é o exemplo de algumas coisas negativas, mas é o meu país. Descobri, há pouco tempo, que a língua mais bonita do mundo é o português. Talvez por viver no estrangeiro, comecei a saborear as palavras e a reconhecer a sua beleza melódica”, salientou o escritor.

Acordo Ortográfico pouco importante

Para José Saramago, “a língua é o ar que respiramos” e “há uma grande responsabilidade da comunicação social na defesa da língua portuguesa, a de Camões”.

Sobre as polémicas que tem suscitado o Acordo Ortográfico, Saramago comentou que já foi contra e já foi a favor, mas que, fundamentalmente, esta nova reforma “é uma operação estética à língua”, e vai continuar a escrever da mesma forma, “e os revisores que tratem disso”.

“Haverá facções contra e favor, mas não é tanto importante como a língua se apresenta, mas o que diz, o que propõe”, salientou, defendendo que “há que voltar a escrever bem, o que não é um defeito nem ser pretensioso”, ironizou.

“Estar aqui é um milagre”

Sobre o seu actual estado de saúde, comentou estar “ainda um pouco instável”: “Quando estava na clínica pesava 51 quilos, e já recuperei 12 ou 13. Eu parecia uma múmia andante. Não gostava de me ver assim. Estar aqui é um milagre”, comentou sobre a sua recuperação.

O Nobel da Literatura fez vários elogios à Fundação César Manrique, “que é um exemplo de independência”, e ao comissário da exposição, Fernando Gómez Aguilera, “que teve a ideia e a generosidade de criar a exposição”.

Por seu turno, o comissário afirmou na conferência de imprensa que a exposição “José Saramago - A Consistência dos Sonhos” está “no seu lugar natural”, em Lisboa, e “é um exemplo de traduzir modestamente a vida e obra de José Saramago, um dos grandes escritores do século XX”.

Disse ainda que a mostra foi criada para vários tipos de públicos, “com uma perspectiva generalista e também para incluir as crianças, para que se possam relacionar com a obra de Saramago através dos dispositivos audiovisuais”.

O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse estar orgulhoso de trazer a Lisboa esta “exposição extraordinária”. E disse: “Esta exposição é um romance, a descrição de uma vida singular, mas que ao mesmo tempo é absolutamente universal.”




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